[Resenha] Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo



Sinopse: Dante sabe nadar. Ari não. Dante é articulado e confiante. Ari tem dificuldade com as palavras e duvida de si mesmo. Dante é apaixonado por poesia e arte. Ari se perde em pensamentos sobre seu irmão mais velho, que está na prisão.

Um garoto como Dante, com um jeito tão único de ver o mundo, deveria ser a última pessoa capaz de romper as barreiras que Ari construiu em volta de si. Mas quando os dois se conhecem, logo surge uma forte ligação. Eles compartilham livros, pensamentos, sonhos, risadas - e começam a redefinir seus próprios mundos. Assim, descobrem que o amor e a amizade talvez sejam a chave para desvendar os segredos do Universo.








Título original: ARISTOTLE AND DANTE DISCOVER THE SECRETS OF THE UNIVERSE
Autor: Benjamin Alire Sáenz
Páginas: 392
Acabamento: Brochura
Selo/Editora: Seguinte

Classificação: 5/5

 Diferente. Sim, diferente é uma palavra tão boa quanto outra para definir o que achei desse livro. Porém, caro leitor, não pense que foi no mal sentido, muito pelo contrário, este livro vai causar espanto e admiração tanto por sua temática quanto pela sua linguagem.

Tudo se inicia no verão de 1987 quando Aristóteles, um jovem de 15 anos com inúmeros problemas familiares e crises de identidade típicas da adolescência, vai ao clube perto de sua casa ter uma tarde na piscina. Tudo estaria perfeitamente normal se não fosse por um pequeno detalhe: Ari não sabia nadar, e como considerava os salva vidas uma “droga que só sabiam pensar em meninas e em peitos”, fica boiando na piscina até que Dante, até então um desconhecido, se oferece para ensiná-lo.

Começa então uma grande amizade que desde o primeiro momento te cativa, pois podemos dizer que foi simpatia e conexão à primeira vista entre ambos. Se há uma palavra que descreve perfeitamente o inicio dessa amizade, me arrisco a dizer que palavra é: “risada”. Desde a primeira conversa entre eles, fica claro que não nascia apenas uma relação qualquer de amizade, mas sim que se tratava de duas pessoas solitárias que vêm a oportunidade uma na outra de tentarem se encaixar no mundo.

Nem tudo, porém, são flores. Ari, nosso narrador, tem inúmeras crises de auto depreciação e solidão, e podemos atribuir isso a difícil convivência familiar. Seu pai foi para a Guerra do Vietnã antes dele nascer e se tornou uma pessoa extremamente fechada e resguardada quando retorna. Suas irmãs gêmeas, 12 anos mais velhas do que ele, o tratam como se fosse algo indesejado e “atrasado” da família. Possui um irmão mais velho que foi preso quando ele tinha 4 anos, que sua família age como se estivesse morto. Sua mãe, apesar de ser a única que sempre tenta ter uma relação de amor e dialogo com Ari, não pode suprir a ausência e o sentimento de rejeição causado pelo resto dos familiares. 

"O problema não é que eu não ame minha mãe e meu pai. O problema é que não sei como amá-los."
   
Já Dante, podemos dizer que é o oposto, embora tenha semelhanças com Ari em alguns poucos aspectos. Seu pai é professor, assim como a mãe de Ari, e sua mãe é psicóloga. Ele possui uma relação mais próxima a seu pai e considera sua mãe incognoscível (misteriosa, desconhecia), porém possui uma relação estável com a mesma. Essa atmosfera neutra e até mesmo amistosa faz com que Dante seja mais “leve”, ou seja, livre de qualquer a bagagem emocional, como por exemplo, a que Ari carrega em sua vida.

Duas pessoas tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais e tão próximas que você não vê a hora de ler mais e mais a cada capítulo. Não é uma amizade que você lê frequentemente nos livros de literatura, até porque aqui se trata de dois garotos no ápice dos hormônios e dos conflitos internos, e isso faz com que essa amizade seja conturbada e ao mesmo tempo leve e sincera. Eles compartilham confidências, experiências e se tornam vitais na vida um do outro.

"Eu era praticamente invisível. Acho que gostava de ser assim.
Até que surgiu Dante."
   
Em certo momento do livro, há uma separação física temporária entre Ari e Dante, e é nesse momento que ambos começam a adquirir as primeiras experiências, como dirigir, beber, beijar e fumar maconha. Mas a maior revelação que acontece nesse período é por parte de Dante: Ele se descobre gay. E é aí que a história começa a ter um sabor mais especial, pelo menos pra mim. Um livro falando de um tema que até hoje é tão polêmico e com tantos tabus, de uma forma tão leve, simples e simpática que você acaba ficando encantado tanto com a sutileza, quanto pela pureza do autor ao retratá-lo. Além de claro abranger de forma sincera e direta as experiências e conflitos da adolescência.

Outra palavra que se encaixa perfeitamente ao livro é a palavra leve. O autor é sutil e leve até mesmo para retratar os acontecimentos mais tristes e impactantes da história. Um ponto muito a favor foi sua linguagem simples, na qual todos os diferentes tipos de leitores podem e conseguem ler. Isso quebrou definitivamente o tabu, que, para um livro ser bom, precisa de uma linguagem e uma extensão mais complexa e elaborada. Dividido em três partes (todas narradas por Ari), um capítulo chega a possuir apenas 5 frases, mas não se engane ao pensar que isso desfavorece o livro, muito pelo ao contrário, o torna ainda mais especial pelo simples fato de você ter aquela sensação que essa memória expressa algo tão importante para a compreensão do personagem ou algo tão bonito, que necessite de um espaço só para isso.

O final é definitivamente o ápice da história, e você fica em dúvida qual ele será até as ultimas páginas do livro, porém vale apenas esperar. Logicamente não direi como o livro irá terminar, mas uma coisa eu te digo: A amizade de Ari e Dante chega a uma outra atmosfera tão quanto ou até mais apaixonante do que no início e desenvolvimento do livro. Então, leia para descobrir e se apaixonar por Ari e Dante tanto quanto eu.

"Então passei a me chamar Ari. Se tirasse uma letra, meu nome seria Ar.
Achava que devia ser ótimo ser o ar.
Eu poderia ser alguma coisa e nada ao mesmo tempo.
Ser necessário e invisível.
Todos precisariam de mim e ninguém conseguiria me ver."
 

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